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OITO DE MARÇO É DIA DE CELEBRAÇÃO!

Jacira Jacinto da Silva 1



Estudando o livro, História dos Feminismos na América Latina, fruto de estudo seríssimo da autora Dora Barrancos 2, aprendemos muito sobre a relação estreita existente entre a submissão das mulheres, imposta às mulheres pelos regimes patriarcais, ao largo da história, e os regimes políticos autoritários e ditatoriais.



O livro retrata a situação de cada país integrante da América Latina, mas conta também as diferentes histórias nas quais a conjuntura atual foi tecida. Impressionantemente, no relato sobre os feminismos de cada país há informação sobre mulheres valentes, lutadoras, que deram inclusve a própria vida pelo reconhecimento da igualdade de gênero, ou apenas por um tratamento mais digno. Há também a marca do autoritarismo em todos os casos e o vínculo muito estreito entre as piores atrocidades cometidas contra mulheres e o regime político dominante, não raro autocratas, ditatoriais e conservadores.


A constatação de que mulheres de muitos desses países conseguiram o direito ao voto somente em meados do Sec. XX e que isso foi possível graças à luta de muitas delas que, a despeito de todas as restrições impostas pelo machismo dominante, conseguiram alfabetizar-se e deram voz às demais, bastaria para afastar qualquer dúvida sobre a discriminação de gênero com a qual as integrantes do “feminino” tiveram de conviver até os dias atuais.


Em alguns casos, as mulheres submeteram-se a esteriótipos comprometedores, tamanha era a necessidade de se colocarem em evidência, já que não eram escutadas, tampouco enxergadas pelas vias de comunicação triviais.


Que ninguém duvide, neste 8 de março, da importância de valorar, exaltar e divulgar o dia dedicado às mulheres, especialmente considerando que temos ainda um longo caminho a percorrer.


Apesar dos registros claros que marcam a história de desrespeito, discriminação, supressão de direitos e inúmeras outras violações hoje menos permitidas e aceitáveis, temos muito trabalho pela frente. Ainda hoje nos mandam calar com extrema facilidade; pagam-nos salários inferiores, negam-nos posições de destaque, evitam oportunizar espaços que nos coloquem em evidência, aumentam o tom de voz por nada e, evidentemente, discriminam-nos sem qualquer constrangimento. Ainda é muito comum, desgraçadamente, rirem de nós, fazendo da condição feminina motivo de piada.


A autora relembra as precursoras, mencionando inclusive aquelas que, muito longe de defender o feminismo, cujo movimento sequer existia, já manifestavam ideias e valores contrários ao patriarcado então existente. Mencionou a mexicana Juana Inés de Asbaje y Ramírez de Santillana, conhecida como Sor Juana Inés de la Cruz, “Essa freira inconformista, nascida em 1648, se serviu da escrita, pois escrever foi uma experiência de gozo e de escape para as que puderam se alfabetizar”, bem como um número incontável de sucessoras dela, responsáveis pelo futuro reconhecimento mínimo da igualdade de gênero.


Não passou despercebida à autora a fabulosa contribuição do frade José Trinidad Reyes, figura-chave da Universidade de Honduras, que reivindicava um tratamento mais igualitário às mulheres, isso nas primeiras décadas do século XIX, e escrevia sob o pseudônimo de Sofía Sayers. Seu texto pode ser publicado hoje com absoluta atualidade:


“Peço, unicamente, a igualdade de educação. Peço que se considere que as almas não têm sexo, que o gênio e talento femininos são tão perfectíveis quanto os do homem, e que é claro que, formados com tanta igualdade de faculdades — se não posso dizer com maiores dotes —, é contrariar a vontade providencial deixar de cultivar suas inteligências.”


A própria autora destaca a relação entre o alvorecer do movimento proletário com o feminismo; o contrafeminismo e a sua identificação com a social-democracia.


Considero leitura obrigatória para homens e mulheres que compartilham a defesa da igualdade, que se sentem na obrigação de defender um patamar civilizatório isento de discriminações e, em nosso meio espírita, que reconhece as trajetórias de homens e mulheres nesta existência como apenas uma experiência a mais.


Mencionando e contextualizando os movimentos feministas de todos os países da América Latina, um a um, a autora chega às demandas do feminismo na atualidade, que segue enfrentando pautas velhas, como o direito à não criminalização do aborto, à igualdade salarial e à possibilidade de exercer plenamente direitos políticos, especialmente no exercício de cargos eletivos, como representantes políticas, além de inúmeros outros.


Destacou em toda a obra, os diversos feminismos, a diferentes lutas voltadas à igualdade de gênero, distintos não apenas em função da realidade específica de cada povo e cada época, mas também em razão das diferentes buscas conduzidas por mulheres com visões de mundo diferentes e buscas até inconciliáveis.


Mesmo entre espíritas, supostamente informados sobre a importância da existência para todos os sexos, a igualdade soa estranha, havendo desconhecimento e má interpretação sobre o capítulo de O Livro dos Espíritos que trata da igualdade entre homens e mulheres.


Convido as companheiras do MOVMMESP a seguir estudando, empoderando-se e buscando todos os recursos possíveis para contribuir com essa causa que tem singular importância no trabalho de construção de um mundo melhor.


Parabenizo as mulheres lutadoras, as que sofreram ou sofrem violência de todo e qualquer gênero, bem como às que nunca experimentaram qualquer tipo de violência, mas sabem vivenciar a empatia e lutam juntas pelo atingimento de um patamar de igualdade e liberdade desejável. Por fim, parabenizo os homens que conseguem compreender o valor dessas lutas, mesmo quando ainda não conseguiram desvenciliar-se totalmente do machismo estrutural existente na humanidade.


 

[1] Advogada, espírita de nascimento. Atualmente está presidente da CEPA – Associação Espírita Internacional. Cofundadora do MOVMMESP – movimento de mulheres espíritas pela defesa dos direitos humanos.

[2] Barrancos, Dora. História dos feminismos na América Latina / Dora Barrancos tradução Michelle Strzoda – 1. ed. – Rio de Janeiro : Bazar do Tempo, 2022. 288 p.; 21 cm.



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